domingo, 3 de abril de 2022

AS AVENTURAS DE TRÊS AVIADORES

O texto abaixo é a reprodução de uma matéria publicada em um jornal não identificado de Montes Claros, provavelmente nos anos 80, tratando dos pioneiros da aviação no Norte de Minas:

Toninho Rebello - um dos pioneiros da aviação em Montes Claros/MG

"Para quem chega hoje ao aeroporto de Montes Claros, seja para tomar um avião da Nordeste, um  Boeing da Varig ou fretar um dos rápidos aparelhos da Servi-Táxi, descansando a vista na muda contemplação da moderna pista e instalações do aeródromo, não chega, por certo, a imaginar a outrora sucessão de aventuras, existentes para que isso pudesse se tornar realidade. Nem lhe vem à mente quem foram os aviadores que, desafiando as precárias condições da época, trataram de abrir caminho com bravura - a exemplo dos bandeirantes -, para Montes Claros se estruturar como um pólo a(...)ório. Fica até difícil recordar o velho aeroporto montesclarense, agora reduzido a uma quase demolida e nostálgica construção de dois pavimentos. (A própria pista - antigo campo de pouso dos DC-3 -. há muito deixou de ser visível, sufocada por um denso matagal).

"E se tudo isso já fica difícil relembrar, é, de certo modo, impossível se [faz]er qualquer exigência para um mais avançado retrocesso à história fascinante de nossa aviação, quando os novos pioneiros, representando a sede do terminal aéreo local, tinham apenas uma humilde casinhola, e decolavam, ininterruptamente, nos renomados "Paulistinha", aviões prediletos - ainda hoje - das escolas de pilotos civis.

Exemplar do "Paulistinha", pertencente ao acervo do Museu Aeroespacial - foto Ricardo Padovese

"Pois foram exatamente três pessoas os responsáveis pelo início das atividades aéreas em Monte Claros e no Norte de Minas em geral: Flamarion Wanderley - o principal -, o ex-prefeito Antônio Lafetá Rebello, e o médico Nathércio França. Para tristeza coletiva, com exceção do querido Toninho Rebello, os outros dois aviadores faleceram recentemente. Os que acompanharam suas existências, todavia, sabem que não partiram sem deixar uma série de benefícios à cidade, mesmo fora da aviação, setor onde não mediram esforços para crescer.

"Num relato saudosista, o ex-prefeito Antônio Lafetá Rebello, comodamente instalado, descalço, numa cadeira da varanda de sua casa, situada no miolo da velha rua Marechal Deodoro, contou algumas das situações delicadas em que, juntamente com Flamarion e Nathércio, ele foi obrigado a passar voando. Pela descrição das aventuras, deduz-se logo o quanto a aviação no passado, quer seja pelo ardor dos aviadores - reforçado pela inexistência de opções de lazer ou "hobby" -, quer seja pelo espírito aventureiro, foi coroada de momentos heroicos (para não mencionar temerários), supostamente inacessíveis aos atuais modernos homens do ar. "Voar era mais que saber manobrar um avião", exclama Toninho, recordando a intensa movimentação do Aeroclube de Montes Claros.

"Naquela sua humildade de sempre, característica que o imortalizou como o melhor e mais sociável prefeito da "Princesa do Norte", aliada com o indiscutível talento administrativo, Toninho Rebello, ao falar da aviação do "seu tempo", fez questão absoluta de se excluir de qualquer mérito de pioneiro, afirmando que seus dois colegas aviadores - Flamarion e Nathércio - "são os únicos que merecem as honras nesse sentido". A história da cidade, entretanto, é justa no seu parecer, e nela Toninho tem seu registro insigne na aviação, pois fez um ótimo trabalho à frente da presidência do Aeroclube de Montes Claros, devidamente assessorado pelos inseparáveis colegas de aventuras aéreas - Nathércio e Flamarion.

Primeira turma do Aeroclube de Montes Claros -Toninho Rebello é o primeiro de uniforme brando, do centro para a direita da foto 

"Somente para dar uma ideia da extensão do amor que eles tinham às atividades aéreas - um sentimento inabalável, digamos -, Toninho disse que perdeu quatro colegas em acidentes graves, havendo muitos que se salvaram (um, inclusive, caiu dentro do cemitério, mas não teve nada). "Não podíamos desanimar por causa disto. São coisas que, naquele tempo, eram muito comuns..." - justificou. A manutenção das aeronaves era conduzida precariamente, e a maioria voava sem ter certeza das exatas condições de seus aparelhos. Toninho, sorrindo aberto, recorda:

"-Voei inúmeras vezes com um só magneto. Aliás, isso era rotina. Já decolavam com o avião em pane. E, engraçado, não tínhamos medo nenhum de ir ao chão. (A perda de um magneto, em "Paulistinha", implica na queda direta de 75 RPM, neutralizando-se a reserva. Se caso o único magneto também pifasse, o motor seria "cortado" imediatamente, tipo quando se injeta a "mistura rica" no "check" de cabeceira).

"Além da falta de peças originais, não existia ao menos um mecânico autorizado, que pudesse revisar os aviões periodicamente. A ausência não era um empecilho ao voo, com cada aviador tratando de fazer a "inspeção primária" e, constatado o defeito no avião, consertando-o do melhor jeito que podia. "Medo de voar? Jamais ouvi essa frase no Aeroclube!" - afirmou Toninho. E novamente sorrindo, desta vez meio matreiro, mistura de saudade e satisfação, ele contou o pouso "não forçado" que fez em companhia do médico Nathércio França, num milharal próximo a Francisco Sá:

"- Do alto, a plantação parecia uma pista verdinha, convidando para o pouso. Não resistimos à tentação, e efetuamos uma "picada" no manche do "Paulistinha", aproveitando a tarde calma, sem turbulência. Pousamos ao lado da plantação, sentindo os pedais se ressentirem no toque veloz da terra preparada para receber o milho. Era o espírito da aventura que valia...


Aeronave Stearman A76C3, da Força Aérea Brasileira - local e data desconhecidos - Acervo pessoal de Toninho Rebello

"Nem todos os voos, como Toninho confessou, tiveram caráter de recreio. Houve alguns suicidas, afortunadamente completados sem maiores problemas. Uma vez, por exemplo, regressando para Montes Claros, provenientes de um lugarejo próximo a Paracatu, Toninho e um preocupado passageiro sentiram, de perto, a força medonha da natureza: chegando à simpática Jequitaí, antiga terra dos diamantes, atualmente mais uma povoação esquecida, um vento de frente, prenúncio indisfarçável de uma violenta tempestade, o obrigou a fazer meia-volta e pousar num campo não muito distante:

"- O vento estava nervoso; não deixava o avião subir ou avançar normalmente. Tínhamos a impressão, olhando para baixo, de estarmos parados no ar, devido à pequena velocidade desenvolvida pelo aparelho. O jeito foi efetuar uma curva a 180 graus e buscar, o mais rápido - antes que a tempestade nos colhesse - um lugar para aterrisar. Havia um campo a cerca de cinco minutos de voo, mas era um pouso arriscado, pois eu não conhecia as condições da pista. Mesmo assim, confiando na sorte fiz o procedimento de praxe e entrei firme na cabeceira, com o velho "Paulistinha" se recusando a descer, apesar de eu ter cortado o motor bem no começo da reta final, limitando-me somente às "rajadas" curtas, receando que o vento - agora de través - o desviasse da pista. Utilizando o manche em movimentos delicados, porém firmes, consegui neutralizar a perigosa oscilação das asas, enquanto via o maltratado campo de pouso crescer diante dos meus olhos, até que, finalmente, num baque pachorrento, o trem dianteiro tocou o solo, engolindo a pista com voracidade...

"Quando Toninho pensava ter se saído bem, esperando apenas que a bequilha e a cauda do avião se abaixassem, eis que surge um imprevisto: um pedaço de árvore, que fora cortada às pressas, colidiu com uma das rodas do "Paulistinha". O impacto foi o suficiente para o leve aeroplano sair "capotando" com piloto, passageiro e tudo. Milagrosamente, as avarias não chegaram a impedir que ele voltasse a voar no mesmo dia, decolando após ter certeza de que não seria colhido pela tempestade (passou ao largo). E decolou bem mais leve, sozinho, posto que seu passageiro jurara não voltar a pôr os pés dentro de um avião.

"De outra feita, procedente da divisa da Bahia, Toninho Rebello e Flamarion Wanderley voavam (cada um num avião) em paralelo, mais ou menos 300 metros um do outro. Os dois "Paulistinha" ronronavam gostoso , e tudo indicava que a viagem iria ser normal. Ledo engano. Com 15 minutos de voo, o aviador Flamarion percebeu espantado, que estava pingando gasolina em seus joelhos. "O tanque estava vazando!" - pensou. E o depósito de combustível ficava bem em cima. Sem perda de tempo, ele fez vários movimentos bruscos no manche, incluindo as asas, seguidamente, e empreendeu o regresso ao pondo de partida. Toninho, companheiro leal, entendeu o sinal do amigo, e efetuou também uma curva para a esquerda, pousando atrás de Flamarion. No solo, os dois procuram possíveis vazamentos do tanque, "picando" e "cabrando" a aeronave pela cauda, mas não encontraram nada anormal. Concluíram que deveria ser o restolho de alguma gasolina, acumulada na carenagem do motor. E voltaram a decolar, ansiando pela hora de chegar a Montes Claros. 

"Ao completar 15 minutos de voo, atingindo exatamente o ponto em que haviam regressado, os dois se lembraram de um detalhe muito importante: gastaram - e não repuseram - meia hora de gasolina (de voo). Esse tempo, somado como o que dedicaram à vistoria (20 minutos), totalizava 50 minutos. E pelos cálculos anteriores, caso não houvesse nenhum atraso, eles chegariam a Montes Claros às... 17h30min, quinze minutos antes do por do sol. Com o atraso, se não desviassem a rota aterrariam às 18h20min. ou seja, já de noite! Foi quando surgiu uma dúvida atroz: a gasolina seria suficiente? De imediato, descartaram a hipótese  de - mais uma vez - tornar a regressar, resolvendo "jogar no bicho". E seguiram voando, tentando não se preocupar com a linda visão do crepúsculo, que banhava as bordas das nuvens de um dourado perecente. Todos os dois sabiam que, dali a alguns minutos, estariam na mais completa escuridão. Nem a lua estava do lado deles. Também não ignoravam que o "Paulistinha" não possuía equipamento IFR (voo por instrumento). Identicamente era impossível tentar a leitura da bússola, visto que o pequeno avião não se catalogava no meio dos que possuem painel luminoso. Para completar o azar, à falta de uma lanterna, Toninho nem fósforos tinha, pois não fumava (não fuma até hoje). Restava, enfim, confiar na sorte, tentando firmar os pés nos pedais, no duvidoso intuito de não se desviar da rota estabelecida durante a meta do voo.


"Envolto pelo negro da noite, os dois aviões deviam ser dois pontos invisíveis aos olhos de algum camponês. Não existia[m] luzes nas pequenas cidades próximas, vitais para uma orientação. Vez por outra, Toninho contou ter tido medo de se chocar com o avião de Flamarion, forçando o "Paulistinha"a subir no máximo, o que evitava, no mínimo, as altas e traiçoeiras serras da região. 

"- Ao aparecer de relance, a luz permitiu a "leitura" - no modo de dizer, claro - da quantidade de combustível. A vareta estava definhando, se abaixando rapidamente. Um dedo e meio, calculei. Eu nem procurei firmar a vista mais para olhá-la, sabedor de que ficaria ainda mais tenso - disse ele.

"Pouco  adiantava olhar para os lados: a escuridão, o barulho do motor, um leve assobio do vento, descreveu, Toninho, era a única resposta. As esperanças de atingir Montes Claros estavam morrendo; ele não sabia mais onde se encontrava. "Flamarion deve estar por perto, também perdido" - pensava o aviador, dando uma sacudida na cabeça para desviar alguns persistentes pensamentos pessimistas. Piloto veterano, ele confiava muito na prática, não desconhecendo o quão difícil é manter um "Paulistinha" voando reto - ou horizontal - sem nenhuma referência nítida. Não se tem ideia a respeito da inclinação das asas ou do nariz do aparelho. É quando entra a sensibilidade do piloto: o avião pode, sem que ele perceba, estar voando torto, com o nariz baixo ou alto demais; pode estar sendo forçado a voar numa velocidade incompatível com a faixa normal de RPM para voo de cruzeiro (80 milhas/2.100 RPM); e o pior: pode se desviar da rota estipulada com a luz do sol. 

"Compenetrado nos simples comandos do "Paulistinha", Toninho procurava senti-los "vivos" entre suas mãos hábeis, coordenando, da mesma forma, os movimentos dos pedais. Estaria perto ou longe demais do seu destino? Não tinha a menor noção. Restava esperar, mantendo a calma e o avião nivelado. Volta e meia, perscrutava ao redor, os olhos varrendo, inquietos, a imensidão do espaço negro. "É, Flamarion deve estar por aí mesmo..." voltava a pensar. 

"De repente, emocionado, Toninho avistou uma luz longínqua, quase uma lamparina. "Se não for Montes Claros, pode ser - quem sabe? Coração de Jesus, Brasilinha ou Mirabela..." - raciocinou ele, mantendo-se firme na direção da luz. Com dez minutos de voo, na expectativa de o motor "engasgar" subitamente, indo espatifar-se nas terras abaixo, ele teve certeza de tratar-se de Montes Claros. "Graças a Deus!" - exclamou aliviado. A luz foi crescendo, ganhando brilho e maior formato, para se alongar, posteriormente, idêntica a um tapete de pedras preciosas, de brilho trêmulo. Restava agora o problema da gasolina, sem dúvida, no fim, conforme calculou o piloto.

"Pela experiência adquirida em voos noturnos locais, Toninho sabia o exato rumo do campo de pouso, e para lá se dirigiu, tentando localizar a casinha existente à beira da pista, que também, por medida de precaução, sempre mantinha uma luz acesa. Era o suficiente: sem ousar fazer o procedimento normal de pouso, Toninho reduziu o motor para 650 RPM - voo planado -, injetando o ar quente e firmando o manche para o avião realizar um pouso de três pontos - que consiste no toque de solo simultâneo do trem de pouso e a bequilha.

"Dando uma segunda exclamação de alívio, sentiu o "Paulistinha" tocar o solo e correr pela pista familiar. Manche colado à barriga, o aviador saboreava, pela janela aberta, um cheiro agreste de flores nativas. Estava são e salvo! Mas, para espanto seu, uma pequena surpresa havia sido reservada, de última hora, para Flamarion Wanderley: a gasolina do outro avião acabara justamente durante a aterrissagem, e por pouco Toninho Rebello não se choca com ele no meio da pista:

"- Ainda bem que eu vi o "Paulistinha" de Flamarion a tempo, conseguindo me desviar sem problemas, pois minha velocidade já era quase que a de rolagem (taxiamento). Ele teve sorte: sua gasolina poderia ter acabado na "perna do vento" (ao lado da pista), antes sequer de entrar na reta final. Bom piloto que era, Flamarion fez o procedimento normal de pouso. Eu fui imprudente - reconheço -, entrando "de sola" na cabeceira do campo. Mas também estava prestes a ficar sem combustível. Naquela noite fizemos uma verdadeira festa de comemoração. Além da viagem, comemoramos a preservação de nossas preciosas vidas...

"UM OUTRO SUSTO AÉREO    

"Uma outra aventura, só que vivida sem Toninho ou Flamarion darem conta da extensão de sua gravidade, teve lugar por essa mesma época (1944), durante um voo de "reconhecimento" que fizeram nas imediações de Montes Claros, sobrevoando o "Brejo das Almas" e uns povoados próximos. Por "medida de segurança", os pilotos levaram um par de para-quedas, pretendendo utilizá-los tão somente em caso de emergência. A "emergência" quase acabou acontecendo. Para sorte dos dois, o velho "Paulistinha" (voavam no mesmo aparelho) aguentou o tranco, parecendo compreender a inocência de seus ocupantes.:

"- Em pleno ar - conta Toninho -, uma altitude equivalente a seis mil pés, checando os instrumentos, percebemos que a temperatura do óleo excedera a máxima de 90 graus centígrados, com o ponteiro colando do pino do velocímetro. "Se passar a sair fumaça ou exalar cheiro de queimado, nós saltaremos" - sugeriu Flamarion. "Tudo bem", concordei. Afinal, estávamos de para-quedas! Fizemos uma curva de 90 graus, reduzimos o motor, e, "picando" o avião para aumentar a velocidade, tocamos em direção a Montes Claros, aproveitando as camadas térmicas, igual às que os urubus se utilizam para atingir altitudes elevadas. Para saltar, pensávamos que bastaria pular e puxar a cordinha. Nossa situação era crítica, mas não dava para receber lições de para-quedismo pelo rádio, pois "Paulistinha" não possui nenhum. Montes Claros era a única cidade que oferecia um seguro pouso alternativo. Poupando o motor, cintos desafivelados, e portas destravadas, continuamos voando normalmente, até avistarmos, meio fosco, uma agrupamento de casas: era Montes Claros. 

"Surpreendentemente, os aviadores aterrissaram sem sentir cheiro de queimado. Diante do olhar surpreso dos colegas, estranhando o regresso, eles explicaram que haviam sofrido uma pane. "Aí, para falar a verdade, foi que sentimos medo - um verdadeiro calafrio" - disse Toninho. Um dos colegas afirmou que fizéramos bem de não ter abandonado o "Paulistinha", ainda mais saltando de para-quedas novos, sem abri-los e proceder uma rigorosa inspeção. "E precisa?" - indagou Flamarion, achando aquilo um tanto burocrático. "É necessário, pois é a vida do para-quedista - você, por exemplo - que está em jogo. E não custa nada, convenhamos..." - disse o terceiro aviador, pondo-se a abrir os para-quedas, que ostentavam ainda o selo de fábrica. Mostrando os selos, ele fez um gesto indagativo com as mãos, abrindo-as em paralelo. Conclusão: com os selos - ou o lacre do fabricante - os para-quedas tinham a mesmíssima função de um monte de pano inútil. Jamais se abririam! Essa foi, conforme o veterano Toninho Rebello confessou, "uma lição memorável..."

Membros da diretoria e 3a turma de pilotos do Aeroclube de Montes Claros - Toninho é o primeiro, à esquerda da foto


sábado, 3 de junho de 2017

Sobre cotas para mulheres no Poder Legislativo

Existe em tramitação no Congresso Nacional uma proposta que visa conceder cotas para mulheres nas cadeiras dos legislativos de todas as esferas de governo. A ideia é assegurar 10% das vagas para o sexo feminino na primeira eleição e aumentar gradualmente esse percentual nas eleições seguintes, até alcançar o patamar de 16%.



Essa medida, se implantada, representará uma quebra no paradigma democrático nacional. 

A questão aqui não é o sexo, mas a limitação do poder de escolha do eleitor (propostas semelhantes com cotas para determinadas etnias, grupos religiosos etc. padeceriam do mesmo vício).

A Constituição Federal afirma que todo poder emana do povo, que o exerce diretamente ou através de seus representantes eleitos. 

Se há poucas mulheres nos parlamentos é porque o povo votou majoritariamente em homens. Sendo o povo o titular do poder, deve o Estado respeitar sua vontade soberana. A criatura não pode se voltar contra o criador.

Não devemos nos esquecer que a lei eleitoral já assegura uma cota de 30% para candidatura de mulheres. Essa regra não é antidemocrática, pois o eleitor continua tendo a opção de não votar em mulheres, se não gostar dos nomes apresentados.

Assim, a eventual eleição de menos de 10% de parlamentares do sexo feminino representa uma soberana desaprovação do eleitorado à lista apresentada pelos partidos.

Então, como poderiam os representantes do povo pretender alterar esse resultado? Seria uma total inversão de papéis. Os representes do povo estariam dizendo a seus representados quem eles deveriam escolher para representá-los. Nada mais antidemocrático, paradoxal e inconstitucional.

Se 53% do eleitorado brasileiro é composto por mulheres e se recentemente uma mulher foi eleita, por duas vezes, para governar o país, a ausência de mulheres nos parlamentos não pode ser atribuída ao “machismo”, mas a uma legítima rejeição do povo, soberano, aos nomes apresentados pelos partidos políticos. É com bons nomes e boas propostas que se deve mudar esse cenário. O Estado não pode pretender dizer ao eleitor quem ele deve eleger (ou substituir a vontade do eleitor), sob pena de se tornar um Estado autoritário e de transformar a eleição em um teatro.

domingo, 16 de outubro de 2016

Maconha não é porta de entrada para outras drogas?

 Maconheiros e esquerdistas em geral comemoram a divulgação de uma pesquisa que afirmaria que a porta de entrada para outras drogas é o álcool, não a maconha. Para eles, dizer que a maconha exerça esse papel é "um mito" que a pesquisa, publicada no Journal of School Health, ajuda a desfazer. Eles esperam que isso ajude a quebrar a resistência da sociedade quanto à liberação da maconha (e de outras drogas, embora esse segundo objetivo não seja confessado). Ocorre que a pesquisa não é, em nada, favorável à liberação  da maconha. 


Primeiramente, os objetivos dessa eram apenas:
1- determinar qual substância (lícita ou ilícita) os entrevistados iniciaram o uso primeiramente;
2 -determinar a ordem em que os entrevistados progrediram no uso de álcool, tabaco e maconha e
3 - baseado na substância consumida em primeiro lugar, examinar o impacto da idade de primeiro uso dessa substância no tempo de vida do uso de substância ilícita e na frequência desse uso.

Pode-se perceber que a investigação sobre a maconha ser ou não porta de entrada de outras drogas, ou sobre ser ou não inofensiva, não era objeto da pesquisa. E,percebam que não há nada que impeça a existência de mais de uma porta de entrada para drogas. Ou seja, mesmo que a pesquisa mencionada conclua que o álcool é uma importante porta de entrada para outras drogas, isso não significa que a maconha também não o seja.

A propósito, quando se diz que o álcool é uma importante porta de entrada para outras drogas, está-se considerando que a maconha é uma dessas "outras drogas"; está-se lamentando que, do álcool, as pessoas passem para a maconha, a cocaína etc. Que boa notícia para a maconha essa conclusão pode representar?

Além disso, os pesquisadores citaram uma pesquisa anterior, realizada por Fergusson e Horwood, que examinaram o uso de maconha e de outras drogas ilícitas e descobriram que 99% daquelas pessoas que informaram já ter usado drogas ilícitas, usaram maconha antes do uso de outra droga ilícita.
 


Ou seja, se a maconha não é "porta de entrada" (algo que a pesquisa não diz) é, no mínimo, um "corredor" ou um "degrau" na escadaria que leva a drogas mais pesadas e destrutivas. 

A propósito, vejam o comovente depoimento desse veterinário que afirma que a maconha o colocou no crack:


Vejam também essa notícia, publicada há 2 dias, de uma mãe que matou o filho ao deitar sobre ele após fumar a "inofensiva" maconha: 


Como se vê, dificilmente uma pessoa em estado normal de consciência acreditaria que a pesquisa que classificou o álcool como porta de entrada de outras drogas seja, de alguma forma, favorável à legalização da maconha. Maconha é droga sim, causa danos sim e deve continuar proibida. O fato de outras substâncias nocivas serem liberadas não justifica a liberação de mais uma. Só mesmo quem defende o "quanto pior, melhor" é que pode usar uma lógica dessa.

Sobre pesquisas manipuladas para não apontarem os malefícios das drogas, confira o vídeo abaixo: 





Link para a publicação do Journal of School Health: 
http://onlinelibrary.wiley.com/doi/10.1111/josh.12351/epdf  

sábado, 3 de setembro de 2016

Reforma previdenciária e taxa de natalidade

Este será um pequeno post sobre reforma previdenciária e sua eficácia no panorama atual da taxa de natalidade no Brasil.

O Presidente Michel Temer tem sinalizado que uma nova reforma previdenciária será proposta, com a finalidade de acabar ou reduzir com o alegado déficit nas contas da previdência (há quem conteste a existência desse déficit, mas isso não é objeto deste post).

Como toda reforma previdenciária com tais objetivos, é certo que haverá uma tentativa de elevação da idade mínima e do tempo de contribuição para a aposentadoria. Argumenta-se que o "envelhecimento" da população inviabilizará o sistema previdenciário caso não haja mudanças.

Ao que nos parece, qualquer reforma que pretenda unicamente obrigar as pessoas a trabalharem por mais tempo e, consequentemente, se aposentarem mais tardiamente fracassará. Isso porque o maior problema do sistema previdenciário atual não está no meio (população economicamente ativa) ou no topo (aposentados) da pirâmide populacional, mas na sua base! O problema principal não é o aumento na expectativa de vida (longevidade) do brasileiro, mas a diminuição da taxa de natalidade.

Ora, o sistema previdenciário funciona, grosso modo, como uma pirâmide financeira. Enquanto o número de pessoas que nele ingressa for maior do que o daqueles que estão no topo, a pirâmide se mantém íntegra, mas quando a capacidade de captar novos participantes é reduzida, a pirâmide entra em colapso.

É verdade que a população realmente está vivendo mais, o que, obviamente, impacta nas contas da Previdência. Mas nenhum aumento de idade mínima e de tempo de contribuição serão capazes de evitar um colapso se a quantidade de novos participantes for paulatinamente reduzida.

E é exatamente isso que está acontecendo no Brasil atualmente. Se você faz parte da minha geração, provavelmente seus avós tiveram muitos filhos (até mais de uma dezena), já a geração de seus pais reduziu esse número para 3 ou 4 filhos. Agora observe a sua geração (seus colegas, irmãos, primos etc.). Dificilmente encontrará um casal com mais de 2 filhos. Muitos tem apenas 1 e muitos outros nem isso.

Ou seja, demograficamente falando, a geração atual não será capaz sequer de "repor" as perdas decorrentes da sua morte. Consequentemente a base da pirâmide demográfica/previdenciária vai se reduzindo. Se as coisas continuarem assim, a população do Brasil irá diminuir e a pirâmide irá ficar de cabeça para baixo. Ninguém consegue sustentar um sistema previdenciário assim, pelo menos não sem muito sacrifício e muita injustiça. Imaginem as pessoas sendo obrigadas a trabalharem até 75, 80 anos de idade. Parece absurdo, mas se nada for feito para aumentar a base da pirâmide, fatalmente se chegará a esse ponto.

Sem prejuízo de eventuais ajustes no meio e no topo da pirâmide (aposentadorias mais tardias, que implicam em mais arrecadação e menos gastos) é necessária uma ação governamental de fomento à natalidade. Isso pode ser feito através de incentivos fiscais; oferta de creches e escolas infantis de qualidade; desoneração e desburocratização da contratação de babás etc. (exatamente o contrário do que o governo tem feito).

Para terminar, vejam a pirâmide demográfica do ano 2000 (que já apresentava estreitamento na base) e a prevista para 2035 (em cores mais claras):



quinta-feira, 26 de maio de 2016

As reações ao encontro de Alexandre Frota com o Ministro da Educação


A militância esquerdista e a mídia aparelhada têm criticado fortemente o encontro que o Alexandre Frota teve com o Ministro da Educação no dia 25 de maio. Nem vou falar muito acerca do falso moralismo presente nas críticas dessas pessoas, porque todos sabemos que em matéria de moral e costumes eles estão sempre na vanguarda da degradação (vide liberação das drogas; reconhecimento da prostituição; espetáculo macaquinhos; crucifixo no ânus e livros infantis do MEC com conteúdo sexual explícito – pelo menos os filmes do Frota são proibidos para menores de 18 anos). Agora, se criticam sua falta de preparo para opinar sobre assuntos educacionais, deveriam se preocupar, muito mais, com o ex-jogador brigão Romário presidir a Comissão de Educação do Senado (aliás, Comissão de Educação, Cultura e Esportes – curioso que o Executivo não pode unificar as pastas de Educação e Cultura mas o Senado pode manter em uma só comissão a educação, a cultura e o esporte).

 De qualquer forma, o Frota não foi nomeado para ocupar o cargo de Ministro ou nenhuma outra função no Ministério. Então, por que tanta crítica por um simples encontro? Porque ele e outras figuras públicas menos polêmicas (e que por isso não mereceram tanto destaque da mídia) foram conversar com o Ministro sobre o projeto “Escola Sem Partido”, que não é de autoria do Frota, mas de um grupo de pessoas muito sérias e preparadas. Esse projeto tem o poder de anular uma das principais trincheiras da estratégia grasmsciana de transição para o socialismo/comunismo: a apologia ao socialismo/comunismo nas escolas.

Logicamente que a militância e a mídia esquerdistas não iriam aceitar isso sem reação. Então tentam desqualificar o fato e seus personagens.

As tentativas de manipular a opinião pública já começam nas manchetes. A do iG, por exemplo, dizia: “Fã de Bolsonaro, Alexandre Frota apresenta propostas a ministro da Educação”.

Aqui se percebe que o autor do texto deliberadamente fugiu do assunto da notícia para tentar associar o Frota ao inimigo público n. 1 da esquerda, o deputado Jair Bolsonaro, defensor de ideias conservadoras e que tem ganhado espaço nas pesquisas de voto para a Presidência da República.

O subtítulo da matéria foi: “Ex-ator pornô [o Frota] foi a reunião com Mendonça Filho ao lado de líder de grupo que só aceita cristãos entre suas lideranças e é contra ensinamento de temas como homofobia em sala de aula”


Mais uma vez o ataque esquerdista fica claro. Ora, alguém já viu a imprensa chamar a Dilma de ex-terrorista; ex-guerrilheira; ex-assaltante e ex-sequestradora? Não, né? Não obstante, o Frota foi tratado ao longo de toda a matéria como “o ex-ator pornô”. Antes de ser ator pornô ele era um ator comum (carreira que desempenhou por muito mais tempo) e atualmente é apresentador de um programa de entrevistas na internet. Mas o jornalista preferiu dar destaque para a sua atividade mais polêmica. Você acredita que isso foi por acaso?

Voltando ao subtítulo da matéria, ali também se percebe um tom de crítica ao ativista pró-impeachment Marcello Reis, “que só aceita cristãos entre suas lideranças”.

Além disso, o jornalista usa aspas quando se refere à doutrinação ideológica, de modo que o leitor seja levado a crer que essa doutrinação não exista, que seja apenas uma paranoia de Frota, Reis e companhia. Essa técnica também foi utilizada pelo G1.

Por fim, o iG ainda incluiu nesse balaio de gato jornalístico um parágrafo sobre o deputado Jair Bolsonaro, a quem classifica de notório defensor de ações de torturadores e da volta da ditadura militar. Afinal, o texto era para falar do encontro com o Ministro; do assunto discutido nesse encontro; do Alexandre Frota; do Marcello Reis ou do Bolsonaro e suas pautas conservadoras? 

Um leitor desatento pode até pensar que o último parágrafo da imagem acima está se referindo ao Alexandre Frota, que, inicialmente, parecia ser o personagem principal da matéria.

Fica claro que as críticas ao encontro do Alexandre Frota, do Marcelo Reis e da ex-procuradora Beatriz Kicis (que nem foi citada pelo iG. Quanto machismo!) com o Ministro Mendonça Filho são puro mi-mi-mi esquerdista. Também fica claro o quão dissimulada e baixa é a mídia quando se trata de combater qualquer esboço de reação conservadora à hegemonia cultural adquirida pela esquerda nas últimas décadas.

Aprenda um pouco mais sobre doutrinação nas escolas e o Projeto Escola Sem Partido assistindo à palestra do Professor Bráulio de Matos, da UNB, que é um dos idealizadores do projeto.

Link para a matéria do iG: http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2016-05-25/fa-de-bolsonaro-alexandre-frota-apresenta-propostas-a-ministro-da-educacao.html




segunda-feira, 6 de abril de 2015

Sobre o financiamento público de campanhas eleitorais

Em tempos de pedidos de impeachment da Presidente Dilma diante da corrupção revelada pela Operação Lava Jato, tem ganhado destaque a proposta de proibição de financiamento privado de campanhas eleitorais, a ser substituído pelo sistema do financiamento público exclusivo. 

Ou seja, pretende-se que todo o dinheiro a ser gasto para eleger quem, muitas vezes, só quer se valer do cargo público para roubar dinheiro público, saia dos cofres públicos. Resumindo, a vítima irá patrocinar o ladrão para que ele possa roubá-la...

Essa proposta faz parte da chamada "Reforma Política", mais demagogicamente chamada de "Reforma Política Democrática" (como se a mera utilização do termo "democrático" já tornasse democrática alguma coisa. Normalmente esse expediente só é usado para ludibriar os mais crédulos.  Lembrem-se que que a Alemanha Oriental, de onde todos queriam fugir, se chamava República Democrática Alemã).

O primeiro passo para a implantação desse sistema foi dado pela OAB, que ingressou com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade (ADI) no STF pedindo que o Supremo declare inconstitucional a doação de pessoas jurídicas para campanhas eleitorais. Até a presente data, a maioria dos Ministros da Corte já votou pela inconstitucionalidade das doações de empresas. Se nenhum deles reformular seu voto, essas doações serão banidas das campanhas eleitorais. 

Em minha modesta opinião, financiamento de campanhas eleitorais por empresas nada tem de inconstitucional. Ora, pessoas jurídicas, embora não sejam eleitoras, tem personalidade reconhecida pelo Direito e, portanto, tem interesses legítimos que podem ser afetados (positiva ou negativamente) por medidas estatais (executivas ou legislativas). Sem falar que grande parte da economia nacional é movimentada por pessoas jurídicas. Como alijá-las da participação política? Elas já estão em desvantagem por não poderem votar (e não estou defendendo que possam!).

Será que só mais de 26 anos após a promulgação da Constituição é que a comunidade jurídica nacional percebeu que o financiamento de campanha por empresas é inconstitucional? 

Não acredito nessa hipótese. O que penso é que a situação chegou a um ponto em que, diante da omissão dos legitimados (Executivo e Legislativo), optou-se por legislar por via transversa. E todos sabemos que o STF é uma Corte "política", portanto, há chance de essa medida ser chancelada pelos seus Ministros.

Para justificar o fim do financiamento privado, afirma-se que a origem de grande parte da corrupção está nas doações de empresas ou mesmo de pessoas físicas. Segundo os defensores dessa tese, quem doa para campanhas eleitorais sempre quer algo em troca, se e quando o donatário for eleito. 

Dessa forma, a solução inicial seria o fim das doações por empresas (ação  já posta em prática pela OAB) e, posteriormente, o fim de qualquer doação. Todo o recurso viria dos cofres públicos. Do nosso bolso. 

Mas será que isso funcionaria? No fim das contas, não sairia mais barato dar dinheiro público aos políticos ou partidos, em troca da drástica diminuição da corrupção? 

Acredito que não. 

Primeiramente, enquanto não existir um sistema eleitoral imune a caixa-dois, qualquer recurso público aplicado em campanhas políticas será apenas desperdício desse dinheiro. A corrupção continuará existindo para pagar os financiadores ocultos.

Mas a OAB e os defensores do fim do financiamento por empresas ou do fim do financiamento privado, dizem que, com o financiamento público exclusivo os gastos em campanha reduzirão drasticamente, de modo que, qualquer caixa-dois será facilmente detectável.

Ora, mas pelos riscos que atualmente já envolvem o uso de recursos não declarados, sua utilização deve valer a pena. E, para valer a pena, obviamente deverá ser uma quantidade significativa, mesmo nos dias atuais. Em outras palavras, nenhum candidato ou partido assumiria o risco pelo uso de caixa-dois se isso não fizesse a diferença em sua campanha. Assim, se não se detecta essa ilegalidade no sistema atual, dificilmente se detectará no sistema de financiamento público exclusivo.

Sem falar dos riscos de desvio desses recursos para fins diversos dos previstos na lei. Poder-se-ai, por exemplo, desviar parte dos recursos para financiara movimentos ou grupos de ideologia coincidente com a do partido, como o MST, MTST, movimentos abortistas, etc.

Mesmo que não fosse assim, é importante lembrar que o financiamento público exclusivo não é a única forma de reduzir gastos eleitorais de modo a supostamente tornar facilmente identificável qualquer uso de recursos irregulares e de reduzir influências indevidas na atividade dos políticos. 

A Lei n. 9.0504/95, em seu art. 17-A (incluído pela Lei n. 11.300/06) prevê:  

"Art. 17-A.  A cada eleição caberá à lei, observadas as peculiaridades locais, fixar até o dia 10 de junho de cada ano eleitoral o limite dos gastos de campanha para os cargos em disputa; não sendo editada lei até a data estabelecida, caberá a cada partido político fixar o limite de gastos, comunicando à Justiça Eleitoral, que dará a essas informações ampla publicidade".

Ou seja, está claro que a lei já prevê, desde o ano de 2006, a necessidade de o Congresso limitar, a cada eleição os gastos que cada candidato ou partido poderão fazer na campanha. Diante da inércia daqueles que hoje engrossam o coro por financiamento público, os partidos podem gastar o que bem entenderem. 

Reconheço que o legislador agiu mal ao exigir que a cada eleição o Congresso aprove uma lei dispondo sobre os limites. Mas o estranho é que, ninguém melhor que os deputados e os senadores para saber das dificuldades de se aprovar uma lei. Parece até que fizeram de propósito. Aprovaram uma lei que saberiam que não iria funcionar, de modo que, na prática os partidos continuassem gastando o quanto quisessem (desde que informassem previamente à Justiça Eleitoral).

Mas se hoje a filosofia dos partidos mudou, se querem gastar menos e sabem que o Congresso não tem condições de cumprir a lei de 2006, então, por que, em vez de jogar o ônus de suas campanhas nas costas do pagador de impostos, eles não fazem uma pequena alteração nesse art. 17-A e incluem a possibilidade de o próprio TSE fixar os limites (de forma principal ou subsidiária - na inércia do Congresso)?  Ou então, por que os parlamentares não fixam uma única vez esses limites e determinam uma regra de atualização dos gastos, de acordo com algum índice inflacionário?

Por que não fazem, pelo menos, o teste?

Para mim, o financiamento público atende apenas aos interesses dos candidatos ou dos partidos, já que existe alternativa mais barata para o contribuinte do que aquela por eles proposta. 

Lembram o que fizeram com as armas? Aprovaram o Estatuto do Desarmamento dizendo que iria reduzir a criminalidade, mas o que se viu foi o aumento da violência. Agora já querem desrespeitar o Referendo que eles mesmos propuseram (curioso essa gente que vive falando em aumentar a participação popular, em referendos e plebiscitos, querendo desrespeitar um referendo já realizado, como se só lhes interessasse as "consultas populares" cujo resultado coincida com seus interesses). 

Será que depois de constatado que o financiamento público não resolve o problema da corrupção (ao contrário do que afirmam categoricamente nos dias atuais) eles não irão propor algo mais drástico? Já pensaram se futuramente concluírem que sem parlamentares, ou sem eleições, será mais fácil evitar a corrupção eleitoral? Hoje isso pode parecer um absurdo, mas cada passo que se dá, cada degrau que se sobe, se fica mais perto de onde se quer chegar. Ou vocês pensam que a Venezuela se tornou o que é hoje da noite para o dia? Se se falasse, no ano que Chávez subiu ao poder, que em alguns anos o Presidente do país governaria por decretos (anulando e tornando praticamente figurativo o Congresso daquele país), como é hoje, acham que alguém acreditaria?

Votando ao Brasil... se o STF confirmar a "inconstitucionalidade" das doações eleitorais por empresas, fazendo secar a fonte multimilionária das campanhas, de onde vocês pensam que virá o dinheiro para compensar essa perda? Das pessoas físicas? Jamais. Primeiro porque fazer doações para partidos e candidatos não faz parte da cultura do brasileiro (especialmente diante do conceito geral que se tem dos políticos); segundo porque a lei limita a doação a 10% dos rendimentos da pessoa física (das poucas que doarão).

Então, a solução natural para a falta de recursos provocados pela ação da OAB será, adivinhem? Financiamento público!

Não por acaso, o orçamento público de 2015 já triplicou o valor dos recursos que o governo destina aos partidos (o fundo partidário). Ou seja, já estão preparando o caminho e, de forma sorrateira. Ninguém votou nenhuma lei sobre financiamento público de campanha, pois sabem que a medida é polêmica e encontra resistência no eleitorado. Então, faz-se a coisa de forma dissimulada.

A cada ano pode-se ir aumentando gradualmente o valor repassado ao fundo e, futuramente, pode-se simplesmente abrir mão do financiamento privado, que então não será mais relevante. Resultado, financiamento 100% público sem nenhum debate, sem que o pagador de impostos perceba. Bem ao estilo de Antônio Gramsci.

E a corrupção e o caixa-dois continuarão...





quarta-feira, 4 de fevereiro de 2015

"Toninho Rebello - o homem e o político"

Texto de Maria Luiza Silveira Teles (http://www.minaslivre.net/site/index.php/85-maria-luiza-silveira-teles/2890-toninho-rebello-o-homem-e-o-politico)

Prometi guardar segredo, mas não posso me conter diante de tamanho entusiasmo!..
No próximo dia vinte e cinco, será lançada, em Montes Claros, uma obra extraordinária que, certamente, ficará para sempre gravada em nossa História. Um livro escrito a quatro mãos, unindo o talento literário de uma jovem mulher fabulosa ao de um antigo jornalista político conhecido por todos. Estou falando de Ivana Ferrante Rebello e Jorge Silveira.
O título do livro é “Toninho Rebello – O Homem e o Político”.
Até que enfim, alguém resolve deixar o registro na História de nossa cidade do mais extraordinário administrador público que tivemos.
Todos nós, da velha geração, sabemos bem quem foi Toninho Rebello. Entretanto, talvez não aconteça o mesmo com as mais novas. E, numa era em que a política anda tão desacreditada e a ética tão esquecida, nada melhor que mergulhar na personalidade fascinante de um homem tão raro como foi Toninho Rebello.

Acredito, também, que a parceria dos autores foi um casamento perfeito para retratar essa extraordinária personalidade.
Os mais velhos, aqueles da geração de sessenta, vão amar relembrar os dourados tempos das gestões de nosso inesquecível prefeito. E as novas gerações talvez possam aprender que se pode fazer política com justiça, integridade moral, honestidade, amor e respeito pela coisa pública.
Repetindo as palavras do prefaciador, o também jornalista e escritor, Itamaury Teles: “Ao final deste admirável livro, o leitor, com certeza, me dará razão...”.
Encontramos, na descrição de ambos, um homem inteligente, simples, humilde, embora rico, que nutria grande amor por sua terra natal e por sua família.
Eu mesma me lembro dele em frente à Caixa Econômica Federal da Rua Doutor Santos, com a camisa para fora da calça e rodeado de amigos e admiradores. Sempre gentil e atencioso para com todos.
Não estava aqui por ocasião de seu falecimento, pois jazia eu em um leito do Hospital Madre Teresa, na capital, mas bem posso imaginar a comoção que tomou conta da cidade. Recebi a notícia com tristeza e surpresa, sentimentos estes que sua sobrinha, a autora, mostra que compartilhava com toda a população. 
Os autores foram muito felizes na descrição do Homem e do Político, Antônio Lafetá Rebello. Ivana, com seu estilo mais literário e poético, nos leva à comoção profunda, e Jorge, pelo “vício” do jornalismo, com um estilo mais objetivo, analítico e preciso, nos faz admirar ainda mais a retidão deste homem de tamanha grandeza.
O autor confessa: “Com ele aprendi o caminho dos verdadeiros homens públicos, marcado pela retidão, competência, honestidade e humildade. Mas o traço mais marcante de Toninho era a bondade. Ele era um homem bom de coração, solidário, que desconhecia o ódio.”.
Já a autora termina seu relato com essas belíssimas e emocionantes palavras: “Na minha mente, está muito vívida sua imagem: olhos tristes, mãos no bolso, fiscalizando alguma obra. Difícil imaginá-lo como anjo, mas certamente estará nalgum lugar bonito do céu, rodeado de José Gomes, Marão, Hermes de Paula, Dr. Santos, vovô Jayme e outros homens de bem, ouvindo João Chaves cantar e contando histórias de Montes Claros.”.
Nesse ponto, fechei o livro e não pude conter as lágrimas. Talvez minha alma se curvasse diante de um ser humano tão extraordinário. Ou, parafraseando o autor, porque ele foi o homem e o político com que sonhamos. Aquele tipo de homem e político que poderá construir um mundo mais justo, solidário e fraterno.
Ao fechar o livro, no final, fiquei silente, com uma secreta “inveja” dos dois autores que puderam gozar da convivência desse homem.
Livro perfeito e agradável, em todos os sentidos, que veio tarde, mas em tempo para se fazer justiça a quem tanto mereceu. 
Se ele foi vilipendiado, algum dia, é porque os homens de alma pequena não têm condições de reconhecer a grandeza de outrem a quem não conseguem se comparar.
No relato de ambos os autores são lembrados outros grandes nomes de tantos que ajudaram nossa terra e nossa gente.

Abaixo o depoimento de José Ponciano Neto ao montesclaros.com:
Mensagem N° 79504
De: José Ponciano NetoData: Qui 26/2/2015 11:06:05
Cidade: Montes Claros-MG  País: Brasil
Um lançamento à altura do biografado.
O lançamento do Livro “O homem e o Político”, uma autobiografia do eterno exemplo de administração pública o Sr. Toninho Rebello.
Foi um lançamento que conseguiu lotar o Centro de Convenções do Parque de Exposições de Montes Claros. Muita gente inteligente, como: escritores, poetas, jornalistas, cronistas, articulistas, artistas, cantores, atores, profissionais liberais e principalmente pessoas simples que foram para homenagear o Antônio Lafetá Rebello com sua presença.
Houve vários depoimentos emocionantes: do prefaciador, dos autores do livro, da Presidenta da Academia Montesclarense de Letras - a lúcida centenária Dona Yvonne de Oliveira Silveira - e do neto mais velho do Toninho, quando recordou os ensinamentos e os momentos felizes vividos com o avô “Tunin”.
Durante a cerimônia o Prefeito Ruy Muniz tirou proveito da ocasião para divulgar o projeto de lei de honra ao mérito, a “Medalha Antônio Lafetá Rebello”, uma condecoração que anualmente - no dia 21 de Abril (data do aniversário do Toninho Rebello) - será concedida pela Câmara Municipal de Montes Claros a seis gestores administrativos, sendo: três da iniciativa privada e três do poder público.
Só mesmo a grandeza do Sr. Toninho Rebello e a credibilidade dos autores para ter tornado a cerimônia tão concorrida.
Subjetivamente (sem dúvida) o Prefeito Toninho Rebello foi o homem que esticou Montes Claros. A cidade era muito concentrada e precisava expandir. Logo ele pensou no lazer: construiu o Parque Municipal bem longe, mas, logo vieram os conjuntos Morada do Parque e outros bairros. Pensou no conforto dos passageiros intermunicipais: construiu a Rodoviária na região da fazenda Vargem Grande; vieram os bairros Canelas, Cidade Nova e Conjunto Cristo Rey. Pensou na tranqüilidade de bairros nobrelocalizados (com estética): construiu o Lago do Interlagos no córrego das Lages, logo vieram os bairros Jaraguá, Guarujá, planalto e Independência e JK.
Pensou em um bairro nobre: fomentou e aprovou o Bairro Ibituruna próximo a Serra do Melo onde era a fazenda dos Marcondes; condicionando ao empreendedor as áreas institucionais.
Pensou em desenvolvimento industrial. Criou com apoio da SUDENE o Distrito Industrial – foram desapropriados varias áreas . - vieram a Transit, Peugeot, Brasmel, Biobras, Itasa, Tok, Agapress, Vilma – e completando do outro lado: A Denver, Coteminas, Silber Centro, Metalúrgica Norte de Minas, Grupo Frigonorte, Fuji Eletric Brasil e Sion.
Pensou na mobilidade urbana: asfaltou ruas com a participação dos moradores que o confiava.
Pensou na cultura: construiu o Centro de Cultura Hermes de Paula
Percebe-se que todas as obras de expansão tinham um atrativo. Nada era aleatório. Tudo com planejamento.
Está de parabéns a doutora Ivana Ferrante Rebello e o jornalista Jorge Silveira pela a brilhante idéia e também pelo evento.

(*) José Ponciano Neto é membro do Instituto Histórico e Geográfico de Montes Claros – IHGMC e da Academia Maçônica de letras do Norte de Minas - AMLNM
No link abaixo pode-se conferir a matéria produzida pela InterTV MG e exibida no MG TV sobre o lançamento do livro: 

http://g1.globo.com/mg/grande-minas/mgintertv-1edicao/videos/t/edicoes/v/lancado-em-montes-claros-o-livro-toninho-rebelo-o-homem-politico/3995215/